Com o avanço da tecnologia e das pesquisas envolvendo liberação de fármacos, modernização de testes e maior ênfase da previsibilidade de efeitos terapêuticos por meio dos testes in vitro, os testes de dissolução e os estudos de perfis de dissolução têm ganhado cada vez mais importância.
Apesar de terem sido introduzidos inicialmente como uma forma de caracterizar o perfil de liberação de fármacos pouco solúveis, atualmente os testes de dissolução fazem parte das monografias de quase todas as formas farmacêuticas sólidas orais.
A dissolução pode ser definida de forma simplificada como o processo pelo qual um fármaco é liberado de sua forma farmacêutica e se torna disponível para ser absorvido pelo organismo. O ensaio de dissolução nada mais é que um teste físico de natureza destrutiva, no qual o fármaco passa para a forma solúvel a partir da forma farmacêutica intacta ou de seus fragmentos e partículas formados durante o teste, no caso de cápsulas e comprimidos.
O teste de dissolução possibilita determinar a quantidade de substância ativa dissolvida no meio de dissolução quando o produto é submetido à ação de aparelhagem específica (dissolutor), sob condições experimentais descritas. O resultado é expresso em porcentagem da quantidade declarada no rótulo. O teste se destina a demonstrar se o produto atende às exigências constantes na monografia do medicamento em comprimidos, cápsulas e outros casos em que o teste seja requerido.
Perfil de dissolução
O perfil de dissolução pode ser definido como um ensaio in vitro que permite a construção da curva de porcentagem de fármaco dissolvido em função do tempo, empregando-se, geralmente, as condições estabelecidas no teste de dissolução. A comparação de perfis de dissolução é útil nos casos em que se deseja conhecer o comportamento de dois produtos antes de submetê-los a ensaios de biodisponibilidade relativa/bioequivalência, para isentar as menores dosagens desses estudos e nos casos de alterações pós-registro.
O dissolutor
O dissolutor consiste de um sistema de três componentes:
- Recipientes de forma cilíndrica e fundo hemisférico (cubas), feitos em vidro boro silicato ou outro material inerte, podendo ser de acrílico, com capacidade para um litro cada. A cuba deverá ter a sua própria cobertura, esta evita que o meio de dissolução evapore e permite a inserção das hastes, além de cânulas de amostragem e o termômetro.
- Hastes em aço inoxidável para prover agitação do meio, que podem apresentar sob várias formas sendo as mais difundidas: cestas (Aparato 1) ou pás (Aparato 2).
- Um motor para ajuste da velocidade de rotação da haste.
Processo de dissolução
As cubas são imersas em banho de água termostatizado, de preferência de material transparente ou âmbar que possibilite a visualização das amostras e dos agitadores durante o teste. O aparelho deve ser isento de qualquer fonte de vibração, inclusive externa, que possa influir na hidrodinâmica do sistema.
O Meio de Dissolução é uma solução preparada com água ultrapurificada e misturada a alguns tipos de substâncias. Estas podem ser: ácidos, bases, sais, substâncias tensoativas, enzimas, entre outros. Normalmente, determina-se o pH da solução, no qual deve estar no máximo 0.05 unidades de pH para cima ou abaixo, este pH compreende faixas de 1,2 – 8,0, onde têm uma relevância in vivo, e por facilitar a capacidade tamponante da solução. Pode-se utilizar a água como meio de dissolução quando as variações de pH não interferem na dissolução do produto. É desaconselhado o uso de substâncias orgânicas.
O meio a ser utilizado deve ser previamente filtrado em membrana de 0,45μm ou de menor porosidade e desgaseificado a vácuo com a ajuda de uma barra magnética sob aquecimento, quando necessário, para evitar a formação de bolhas que possam interferir na velocidade de dissolução a ser medida. Quando um único tempo for especificado na monografia do produto, ele representa o tempo máximo dentro do qual deve ser dissolvida a quantidade mínima, em porcentagem, de substância ativa nela estabelecida. Quando mais de um tempo for especificado na monografia, devem ser tomadas alíquotas, adequadamente medidas, ao final de cada tempo indicado.
Ao retirar uma alíquota da amostra, o equipamento deve estar em pleno movimento, e a amostragem deve ser feita na metade da distância entre a superfície do meio de dissolução e a extremidade superior do aparato (cesta ou pá) e não menos que um centímetro da parede da cuba de dissolução. A amostragem é feita por seringas com cânulas de aço inox, contendo na extremidade inferior um filtro de 10μm.
Entenda mais sobre o serviço de dissolução oferecido pelo LABORATÓRIO ZAY.
Escrito por: João Borin | Bacharel em Química, Unicamp e M. Sc. Química Orgânica, Unicamp
Referência BANAKAR, U.V. Pharmaceutical Dissolution Testing. New York, Marcel Dekker Inc, 1992. 437p. BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC n. 31: Realização dos Estudos de Equivalência Farmacêutica e de Perfil de Dissolução Comparativo. Brasília, 2010 KHAN, M. Z. I., Dissolution testing for sustained or controlled release oral dosage forms and correlation with in vivo data: challenges and opportunities. Int. J. Pharm, Amsterdam, v.140, p 131-143, 1996. MARCOLONGO, R. Dissolução de medicamentos: fundamentos, aplicações, aspectos regulatórios e perspectivas na área farmacêutica. Dissertação - (Mestrado em Fármaco e Medicamentos) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003